Por Graziela Brum 11/05/2022
POR QUE ESCOLHEMOS ALTER DO CHÃO PARA A RESIDÊNCIA ARTÍSTICA?
Depois de sete anos vindo de férias a Alter do Chão, resolvi mudar para cá em março de 2020. Sim, em meio ao tumulto da pandemia Covid-19, fiz a travessia de São Paulo até a Amazônia de avião. Uma viagem que ficou registrada na minha memória pelo pânico que foi entrar num aeroporto. Pouco sabíamos sobre o vírus.
Enfim, depois de um ano morando na Vila de Alter do Chão, criei a Residência Artística Campo de Heliantos. O motivo é simples, desde a primeira viagem que fiz a Alter do Chão, notei que me tornava mais sensível e estimulada a produzir arte. Tive a sensação que poderia produzir arte por muito tempo sem me cansar. Isto me trouxe a vontade de permanecer cada vez mais em Alter do Chão. Naqueles dias cheguei a imaginar que moraria na vila e escreveria todos os meus romances aqui, o que agora é uma realidade.
POR QUE ALTER DO CHÃO É O LUGAR IDEAL PARA REALIZAR UMA RESIDÊNCIA ARTÍSTICA?
Alter do Chão é uma vila de pescadores banhada pelo Rio Tapajós e entrou no roteiro turístico pelas belezas naturais e pelas praias de águas cristalinas. Atualmente, é um dos destinos mais desejados, desde casais em lua de mel a mochileiros. E, claro, pelos artistas que procuram um lugar de estímulo à criatividade. Fazer uma residência artística em Alter do Chão é a certeza de encontros inéditos, não somente com a comunidade local, mas também com a natureza pulsante da Floresta Amazônica. A diversidade encontrada em Alter do Chão promove os estímulos às poéticas e aos processos criativos. Passear por Alter do Chão é desconstruir o olhar viciado e engessado dos grandes centros e criar possibilidades de uma nova linguagem e uma nova forma de pensar arte.
O QUE VOCÊ ENCONTRA NOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS EM ALTER DO CHÃO?
É importante dizer que a própria geografia do local estimula o deslocamento, tanto a pé, em caminhadas pela floresta, como também, em navegações a bordo de uma bajara (embarcação local) pelo Rio Tapajós. A ação de caminhar ou navegar propicia novos encontros, outras perspectivas e ajuda o residente a construir processos criativos ainda não acessados. Além disso, entrar em contato com a natureza é fundamental para liberar a mente da atividade repetitiva do cotidiano dos centros urbanos. Ao relaxar, a mente torna-se mais fértil e mais produtiva. Enfim, tenho que dizer que Alter do Chão não é apenas um lugar paradisíaco ou exótico, até porque não consideramos a Amazônia um lugar exótico, mas um lugar em que a diversidade e o estilo de vida ajudam os artistas a potencializar seu poder de criação.
AS ATIVIDADES EM CAMPO DE HELIANTOS
A Campo de Heliantos promove programas de residência no meio da Floresta Amazônica mediados por curadores especialistas em diferentes formas de expressão artística. Incentivamos os artistas a registrarem suas percepções, reflexões e pensamentos nos cadernos de viagem (de artista) e, dessa forma, o primeiro material torna-se disponível a investigação de ideias futuras que possam servir à construção do projeto artístico. No desenvolvimento do caderno de viagem sempre sugerimos várias formas de registro, não apenas com anotações, mas também com imagens e matérias orgânicas que possam atravessar o caminho do residente. Alter do Chão é um lugar rico em encontros inesperados. Desfrutar a Amazônia em um programa de residência pode ser uma excelente ideia, sobretudo, aos que querem destravar depois de um período de isolamento ou pretendem avançar no projeto artístico.
_______________________ Graziela Brum idealizou e coordena o Projeto Literário Senhoras Obscenas. Vencedora de dois concursos ProAc em São Paulo, com Fumaça (2014) e Jenipará (2019) – que é o primeiro romance de uma trilogia sobre a Amazônia -, também publicou Vejo Girassóis em Você (Lumme), de prosa poética. Curadora da Residência Artística Campo de Heliantos.
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